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O goyanez
O goyanez

O Goyanez

(Comedia caipira de GEORGE DUARTE)

 

 

 

 

 

(Zeferino pescando)

 

ZEFERINO – Tô qui  um eito e nada de fisgá nim um lambari. Disgrama, sô! Tô doido modi um pexe fritim com farinha. Boca logo essa isca pexe inzonero. (espera um instante) – Ô seus pexe fii du’a égua vai tratando de gruda nesse anzor, sinão  vô ai e dô uma pisa nocêis; So vô  ispera mais um tiquim inconto dô uma pitada. Ói queu tô avisando.

 

                   (Maroca Torrando café)

 

MAROCA    - Êta qui agorica memo vô cuá um cafézim dos bão pra modi toma cumeno as broinha de fubá no meu forno novo. Chego de tá babando de água na boca só de pensa na gustusura. Qué coisa mió do que introxá o rabió-bó cumeno broinha e funilano um bule de café intirim na vorta do dia? Torra logo café quieu  tô samiada! Torra logo café quieu tô samiada!

 

ZEFERINO  - Fisgô! Icha, e é um bitelão. Brigado meu são Papão. Vô reserva um naco dum tamanão prús ôto santo. (Puxa, vem uma botina) – Ô quiçaça. Colé qui foi o mutreco discarado qui tafuiô essa botina no corgo? Tomara qui há de nascê um monte de pereba no pé desse iscumungado. (Pega a botina e Joga fora) – Sai pra lá fedorenta.

 

(Badú coloca a mala no chão)

 

BADÚ          - Ô cafundó do Juda, oi eu qui traveis, fió-ó-fó do mundo! Dispois de pruveitá bem pruveitado u’a quadra na cidade, tê qui pisá nessa roça de novo é um sacrifiço. Mais vô levá o que vim buscá nem que a vaca tussa, nem que arranque pica-pau do ôco, nem que galinha nasce com dente. Priciso gora é de discansá purqui tô um mulambo. Vô rumá prá tapera da cumá Maroca e dá um jeito de incostá naquela panaca puresses dia.

 

MAROCA    - (Moendo café) A água já tá na fervura lá na rabinha. Cabano de muê, passo nu cuadô e num vejo a hora de manducá as broinha. Mói logo café quieu tô samiada! Mói logo café quieu tô samiada.

 

ZEFERINO  - (Pescando) Anda pexe pasmado. Já tõ iscaderado de tanto fica qui cocado. Si num cumê pexe fritim hoje, ieu vô inté águá. Icha, gora é de memo. E é um baita pexão (Tira uma capanga) – Cruis credo. Qui troço isquisito. Mais qui porcariada é essa nesse corgo? Cadê os pexe, meu pai do céu? (Joga a capanga fora). Sai pra lá inguiço! Causo qui será qui num tem mais pexe? Causo qui será?

 

(Badú perdida)

 

BADÚ          - Mais será o Benedito ou o chapéu dele? Tô pirdida nesse capuerão. Cadê o triero qui vai da lá na tapera daquela muquirama? Eu jurava qui tinha um pé de pau de barriguda qui. E era só imbrenhá até a porteira do Zé Bregué, disandá ladera abaixo até as furna da onça e caminha mais um pôco prá chegá naquela magricela da cumá Maroca. Qué sabe? Vô isguelá qui té arguém me iscutá e vim mi ajudá.

 

(Solta um grito)

 

MAROCA    - Mais qui gritaria é essa? Quem qui será? Tá vino lá das banda da furna da onça, será qui argum boiota testô com o bichano? Parece cum grito de gente qui eu cunheço. Ara, dexa eu passá meu café. (Continua a coar café) – deve de sê argum boiota insaiano pra fulia. Ô cherim danadi bão. Já, já vô inchê o pandú. Cúa café qieu tô samiada. Cua café qui eu tô samiada.

 

(O grito de Badú)

 

ZEFERINO  - Vai gritá nos cú dos pôrco, bisca ruim. Já num chega eu num achá pexe, inda vem uma guela grande pra acabá de ispantá? Perai, tô té veno. Lá envem um pexe. Envem, Envem, Envem... (Badú grita) – iscapuliu! Mais qui disgreta, sô. Si eu pegá o sujeito qui tá isguelano eu vô frevê  nele de pescoção, té muntuá ele no chão. E óia  quieu tô cunheceno esse grito. Pelo zunido só pode sê da sariadera da Badú. Mas aquela bruaca faiz um tempo qui deu no pé pá cidade. Vorto pra cherá o quê? Icha, fisguei um renzão (Puxa uma ferradura) – Não! Sacramento! Vai vê qui corgo  num é mais lugá de pexe. Gora infezei, num pesco mais. (Joga a ferradura fora) – Sai prá lá tranquitana. Mais qui raiva, sô! Fica cocado qui um tempão e num consegui fisga nem um lambari. Meu estambu chega de tá isbarrando lá na cacunda . (Fareja) – Epa1 Tô sintindo um cherim bão de café e tá vino lá das banda da Maroca. Num vô ficá no prejuízo. Quem num tem pexe frito caça cum café quentim da Maroca. Inda mais qui ela custuma tê daquelas broinha qui dismancha na boca. Vô dá o pira prá lá antes dela guardá a merenda, quieu num sô pangô.

 

(Maroca arrumando a mesa)

 

MAROCA    - Prontim!! Já tramelei tudo quanto é porta e janela pá num aparecê nenhum lumbriguento do zói ispichando pra riba da minha merenda. Gora vô introchá de broinha e intorná esse bules de café té chacuaiá no estambu.

 

(Põe café na caneca, pega uma broa. Batem à porta. Maroca engole tudo de uma só vez)

 

ZEFERINO  - Ô di casa!

 

MAROCA    - Ô capeta! Cumé qui pode? Logagora?

 

ZEFERINO           - Cumá Maroca!

 

MAROCA    - E é aquele atrivido do Zefirino do zói maió qui a barriga. Cum pôco vai querê isganá minha merenda. Mais ele topa! Vô ficá de bico calado cumu si num tivesse vivarma im casa.

 

(Maroca junta tudo)

 

ZEFERINO - O Maroca, é ieu, Zefirino.

 

MAROCA    - Cum coisa qui eu num manjo a fala desse isgabilado qui só pensa im cumê!! Puis ispera ai sentado qui im pé cê cansa, seu veiaco.

 

ZEFERINO  - Abre a porta, Maroca.

 

MAROCA    - Ieu num tô qui não, Zefirino.

 

(Percebe que deu bobeira e põe a mão na boca)

 

ZEFERINO  - Dexa de leréia, muié. Abre Logo essa porta, correno!

 

MAROCA    - Ô, que reiva. Gora ele sabe qui tô qui. Sabe Zefirino, é quieu tô intrevada na cama. O romatismo me pegô di tar manera, quieu num tô nem dano conta de aluí o pé.

 

ZEFERINO  - Tá bão, intão tô ino.

 

MAROCA    - Vai cum Deus Nossa Sinhora. Capeta atraiz tocano viola.

 

ZEFERINO           - Quiria ti contá um assucidido lá nas furna da onça.

 

MAROCA    - (Mais interessada) Qui qui foi ?

 

ZEFERINO  - A onça cumeu u’a pessoa, sabe?

 

MAROCA    - Quem qui foi?

 

ZEFERINO  - Ah, num dá pra contá assim, não. Abre a porta, muié.

 

MAROCA    - Ó ispraguejado! Esse fedaputa sabe quieu num guento fica sem sabê du’a prosa dessa tim tim por tim tim.

 

ZEFERINO  - Uai, num vai querê sabê não, Maroca?

 

MAROCA    - Ieu num guento, vô tê qui abri prêsse fii du’a égua. Mais ele vai sobrá  de cuié purquê vô infurná minha  merenda qui ele num vai nem sinti o chêro.

 

ZEFERINO  - Cumé quié Maroca, abre ô num abre?

 

MAROCA    - To ino, peraí! Aui sangria disatada! Num pode isperá um tiquim?

 

(Maroca vai abrir a porta, Zeferino entra)

 

MAROCA    - Qui cocê tava falano? Quem qui a onça pegô?

 

ZEFERINO  - (Olhando prá cozinha) Carma Maroca, dexeu tomá forgo purqui ieu vim isbafurido modi ti contá.

 

MAROCA    - Senta qui e mi conta loguisso.

 

ZEFERINO  - (Sentado e olhando para os lados) Vô inrolá um pito, primero.

 

MAROCA    - Pronto. Já vi tudo!

 

ZEFERINO  - Já vi tudo o quê, Maroca?

 

MAROCA    - Já vi quiessa histora da onça é das boa. Conta logo, conta!

 

ZEFERINO  - Uai! Gora dei por conta, Maroca. Prá quem tava intrevada, sem podê aluí o pé, cê sarô vuano, né?

 

MAROCA    - É quessas histora de onça me faz sara loguim, loguim. É um santo remédio. Foi Deus qui ti mandô qui, Zeferino, prá mim sará cuessa histora.

 

ZEFERINO - Ô discurpinha mar remendada dessa. Inventa ôta, Maroca!

 

MAROCA    - Ara, si quisê quirditá bem, si num quisê, amém. Vai disimbuchano essa histora de onça, anda.

 

ZEFERINO - Já conto. Mais primero mi traiz uma soquinha de café que é prá módi fazê boca de pito.

 

MAROCA    - Num tem café, não.

 

ZEFERINO - Cumo qui num tem? Tô té iscuitano o chero de café fresquim.

 

MAROCA    - Ce muntô na ispulêta, né qui não. Deve de tá vino lá da casa do Zé Bregué. Qui num tem nem café torrado.

 

ZEFERINO  - Tô cu’a fome.

 

MAROCA    - Mata um homi e comi.

 

ZEFERINO  - Ô Maroca, passa ô menu um cafezim. Qui qui custa?

 

MAROCA    - Ah, num vem qui num tem. Qui qui custa... eu sei muito bem qui qui custa. Já, já, vô insabuá rôpa, botá pá quará e num vô buli cum café, não. Mexê cum torradô, dispois cum água, piriga custipá. Num quero zangá meu romastimo nem pegá prumunia.

 

ZEFERINO  - Quê quê isso, Maroca? Torra logo esse café! Inconto eu conto a histora, cê refresca. Aí ó, já tô té fazeno o pito.

 

MAROCA    - Ih, num fica passano o canivete na paia assim não qui mi dá gastura.

 

ZEFERINO  - Tá bão, num passu o canivete na paia, mais vai torrá o café, caminha! Tô doido módi um cafezim. Prá ficá mió, traiz tamém daquelas broa de mii qui só ocê sabe fazê.

 

MAROCA    - Quiquiisso? Durmiu na estaca, esfomiado? Já disse qui num tem nada.

 

ZEFERINO - Ô Maroca, dexa de sê ridica. Tá mi ridicano um nadiquinha de café?

 

MAROCA    - Mai qui fragelo. Já num falei qui num tem café torrado, trumento?

 

ZEFERINO  - Dexa de sê um monte de priguiça, muié. Ajeita esse café.

 

MAROCA    - Vai ficá cuessa latumia no pé do meu ovido té quando? Conta o qui ocê vei mi contá diacho!

 

ZEFERINO - Intão faiz o café.

 

MAROCA    - Ô sacrifiço, conta logo quem qui a onça passô no chebréu, burricido!

 

ZEFERINO  - Sem café cum broa, num conto nadinha.

 

MAROCA    - Mais qui disgrama, sô. Num sô pai de panguço pá ficá barrotando seu buxo de bóia não sujeito. Inda mais ocê qui tem o zói maió qui a barriga qui nada chega

 

ZEFERINO  - Eu sabia. Eu sabia. Cê tá é com ridiqueza memo. O intão é priguicera. É priguiça, né Maroca? Cê sempre foi um monte de bosta memo. Pôia? Age ó meno pá fazê um café.

 

MAROCA    - Ô que giriza. Já tô é u’a arara cocê Zeferino. Num facilita não qui eu ti prego a mão nas venta. Conta logo o causo, anda!

 

ZEFERINO  - Sem café cum brôa num tem cuma.

 

MAROCA    - Num demora eu vô ti infiá a mão no pé du ovido, fii du’a rapariga. Num me inerva, não.

 

ZEFERINO  - Intão num tem merenda?

 

MAROCA    - Tem não, capeta. E conta logo o qui cocê tá pá contá. A onça cumeu quem? Cumé qui foi? Quiora? Adonde. Qui qui sobrô? Qui qui sobrô?

 

ZEFERINO  - Num tem merenda de jeito manera?

 

MAROCA    - Não.

 

ZEFERINO  - Tá certo, Maroca. Fica cum seu café, suas broinha. Vô minbora sua mão de vaca. Nunca qui vô isquece essa disfeita para cumigo.(Vai saindo)

 

MAROCA    - Pur mim, já vai tarde.

 

ZEFERINO  - Tô ino. Ói eu ino.

 

MAROCA    - Uai, inda ta aí? (Ele sai)

 

MAROCA    - Zefirino, vorta qui. Vorta cá, Zeferino.

 

ZEFERINO  - Sai um cafézim?

 

MAROCA    - (Mordendo-se) – Diacho, vô fazê né... mais mi conta logo.

 

ZEFERINO  - Dispois quiocê pruvidenciá café cum brôa. Caminha, dexa di inzona e vai lábutá. Inquanto isso, ieu vô fazeno o pito, passano o canivete na paia.

 

MAROCA    - Disaforento. Inda fica mangano da minha cara.

 

ZEFERINO  - Tá poquejano o quê Maroca? Caminha cum essa merenda, sua prasta.

 

MAROCA    - Ai qui ingrisia! Vô tê um troço. Óia... eu tô teno um troço.

 

ZEFERINO  - Vai tê nada, Maroca . num fica aí insapada, não. Corre cum essa merenda. Primero traiz as broinha pá módi eu i insprementano.

 

ZEFERINO  - (Cantando) Tô sempre sonhano cocê/ Acordo quereno lhe vê/ Mi dá um aperto ansim/ Si penso qui vô lhe perde/ Nosso amor é iguarzim as broboleta/ Iguarzim as folha e os vento/ vuano os pensamento/ lá lá lá lá lá... lá lá lá lá lá...

 

(Maroca busca as broinha)

 

MAROCA    - Tama, morto de fome.

 

ZEFERINO  - Mais essa tutaméia de brôa?

 

MAROCA    - Cê tá pensano o quê, seu esgabilado? Num é dia de traição procê cumê ariviria não, cum poco tá achano quieu tenhum mundaréu véi de brôa pá socá nas capanga.

 

ZEFERINO  - E esse bules que tá intornano de café? Cê feiz o maió fuá pá modi num cuá café purquê num tinha nem café torrado?

 

MAROCA    - A questã é quieu isquici qui tinha um restim de café torrado lá muim, sô. Qué dizê, mai num teve nem prisisão deu muê café, modi por caus qui... ieu tinha isquicido de mi alembrá desse bules qui eu dexo lá no cantim, perto do pé da chaminé.

 

ZEFERINO  - Isqueceu di si alembrá, né? Isqueceu justo dum bules que tá pricisanu té di fuero pá num supitá, isqueceu di si alembrá, mintira cabiluda.

 

MAROCA    - Gora num tem barriga mi dói. Num tem mais cumo. Já si impanturrô té falá chega. Vai, mi conta qui a onça passou no chebréu?

 

ZEFERINO  - Senta Maroca, purquê cê vai ficá abismada quando eu ti disse o nome da coitada da infiliz qui foi pará nu pandú da onça.

 

MAROCA    - A coitada da inifiliz? Qué dizê qui foi muié?

 

ZEFERINO  - Cê num iscuto us grito inda gorica memo?

 

MAROCA    - Iscutei. Intão foi aquelora?

 

ZEFERINO  - Iocê num cunheceu di quem qui era us grito?

 

MAROCA    - Eu pelejei pá modi mi alembrá de quem qui pudia cê, mais num ôve cumo dá conta. Num diga qui a onça cumeu u’a minha cunhicida?

 

ZEFERINO  - E daquelas di dento di sua cunzinha.

 

MAROCA    - Pelamor di Deus, homi, quem qui a onça cumeu?

 

ZEFERINO  - A onça cumeu a Badú.

 

MAROCA    - (Caindo sentada) A cumá Badú?

 

ZEFERINO  - Ieu num falei qui ocê ia cai dura de susto?

 

MAROCA    - Meu pai do céu, num podi cê u’a disgrama dessa. Logo a cumá Badú? Ô Zeferino, cumé quiocê sabe qui foi ela qui a onça cumeu?

 

ZEFERINO  - Ieu vi, uai.

 

MAROCA    - Cê viu?

 

ZEFERINO  - Cum esse zói qui a terra há de cumê.

 

MAROCA    - Mais a cumá Badú faiz um tempão qui foi lá pá cidade sariá.

 

ZEFERINO  - Tava vortanu, né? Tava vortano. Ai a onça tocaiô ela na moita i ó, passô ela no chebréu.

 

MAROCA    - Num quirdito qui a cumá Badú isticô as canela, num quirdito. Ela era u’a muié dananda di isperta pá virá matula de onça. Erela memo, Zeferino?

 

ZEFERINO  - Ó ieu juro. Óia, isticá as canela ela nem teve cumo,  purquê a onça bocanhô ela dum jeito tar qui só sobrô os pé dento dus sapatim. Ficô só nus cotoco.

 

MAROCA    - Deus livreguardi, issu imbruiô meu estambu de tar manera qui eu tô té quereno gumitá, tadinha da cumá Badú, né pussivi meu pai do céu, né pussive. Me conta essa disgrama tim tim por tim tim, Zeferino.

 

ZEFERINO  - Peraí, xô inventá primero.

 

MAROCA    - Inventá? Cê tá é mi passanu mintira, caboco?

 

ZEFERINO  - Não, falei é qui pricisava mi alembrá primero pá modi ti conta tim tim pur Tim tim. É purquê foi u’a coisa tão medonha, vê quela onça peganu a Badú, quieu cheguei té ficá mei abobado. O trem foi de arripiá, Maroca, Cê num magina.

 

MAROCA    - Magino sim, Zeferino. Magino. Cum onça num si brinca (chora) Cumé qui foi, Zeferino? Me conta, cumé  qui foi isso?

 

ZEFERINO  - Ieu tinha discambado lá pás banda das furna da onça pá campiá u’as brejaúva, qui indeis di onti quieu prumeti pá minina du Zé Bregué qui num é de hoje qui ela tá murriano pur causa du’as brejaúva. Ela é uima minina mimosa dimais né, Maroca? Cumo num gosto de vê minino amuado modi u’a coisa quarqué,

 

MAROCA    - Cê é u’a arma muito bondosa!

 

ZEFERINO  - Sõ, Sõ. Ieu sei. Sai campiano. Cê tamém é doidinha pru modi brejaúva né Maroca?

 

MAROCA    - Sô. Mais i a onça?

 

ZEFERINO  - Onça, qui Onça? Tô falanu di brejaúva e vem lá ocê cum onça?

 

MAROCA    - A onça istrume, a onça qui ocê disse inda gorica qui cumeu a cumá Badú.

 

ZEFERINO  - Ah! ... Cruiz Maroca! Ieu mi inscujuro só di mi alembrá daquilo. Foi du’a feiúra tamanha qui num sai da minha cabeça. É ieu fexá os zói e vê a diaba da onça lá, manducano a Badú.

 

MAROCA    - A onça num ti viu?

 

ZEFERINO  - Viu, num viu, quer dizer, acho qui num viu. Só si feiz qui num viu i viu.

 

MAROCA    - Qui diacho! Viu ô num viu?

 

ZEFERINO  - Qué sabe du’a coisa? Viu coisa niu’a. Aquela onça quis dá u’a di muito matrera, mais mi vê ieu garanto qui num viu. Purquê ieu tava trepado lá nas grimpa du pé de jatobá,  peganu uns jatobá granduxo assim, ó.

 

MAROCA    - E cumé cocê trepô lá?

 

ZEFERINO  - Trepei trepano, uai. Vem cum essa de cocê nunca trepô num pé de pau?

 

MAROCA    - É craro, né trem besta! Ieu tô te perguntando é se ocê já tava lá condo a onça vançô na cumá Badú, ô si ocê subiu pá fugi da onça?

 

ZEFERINO  - Não! Ieu já tava lá pegano jatobá já.

 

MAROCA    - Qui diabo de historia mar cuzida. Já tava lá pegano jatobá já. Mais ocê num tava campiano era brejaúva?

 

ZEFERINO  - Tamém. Trepei no pé de jatobá pá inxergá mió onde tinha brejaúva. Dei cum aquelis jatobazão graúdo ansim, tudo granado, pruveitei pá intuiá. Cê tamém gosta de jatobá, né Maroca?

 

MAROCA    - Ah, nem! Aquele trem grudento fica pregado nus dente que é um custo pá tirá. Jatobá é comida de macaco.

 

ZEFERINO  - Ô Maroca,  cê tá mi chamano de macaco?

 

MAROCA    - Não, mais devi di sê parentado. Só sei qui num apreceio jatobá

 

ZEFERINO  - Puis divia. Sabia que jatobá é bão pá modi omentá a belezura.

 

MAROCA    - Ô mintira cabiluda! Donde é que já se viu u’a coisa dessa? Jatobá omentá beleura? Só pudia tê saído dessa cabeça de prego, memo. Quê qui é isso meu fii, ieu cunheço tudo quantuá qui pode sê bão pá omentá a belezura.

 

ZEFERINO  - Si sabi, num usa. Purquê cu’essa feiúra tudo, ô num usa, ô as coisa cocê usa  devi di agi du avesso.

 

MAROCA    - Quem disdanha qué comprá!

 

ZEFERINO  - Comprá u’a marmota dessa? Nem pá sirvi de espantai lá na roça.

 

MAROCA    - Ispantai lá na roça! Mais ocê num cansa de falá puraí, qui qué casa cum ieu?

 

ZEFERINO  - É pinitença quieu tem qui pagá nesse mundo véi sem portera, muié feia, regatera

 

MAROCA    - Dexêu te mostrá a pinitença seu cahacaço erado. (Põe um facão no pescoço dele) – Cê pensa que vai mi imbromá té na ora da janta pá podê cumê as minhas custa de novo, né? Puis vai tratano de mi contá cumé qui foi qui a onça cumeu a cumá Badú, sinão eu ti xuxo essa pexêra, te arranco a paquera, os bofe e os côco tamém.

 

ZEFERINO  - Carma, Maroca! Carma!

 

MAROCA    - Ieu tô carma.

 

ZEFERINO  - Foi assim, ó. condo ieu tava lá nas grimpinha do pé de jatobá, ieu avistei a Badú qui envinha lá lonjão cum aquele jeito isprivitado e insibindo tudo. Nisso, a matrera da onça farejô o chero dela e já ficô de tocaia amoitada num’a macega de capim na berada do triero. Envinha a Badú oiano pus otonte e a onça lá, ó! A Badú deu u’a paradinha, e onça lá ó! Aí a Badú oio pá traiz, feiz qui ia vortá, mais num vortô i prussiguiu pá banda da onça qui tava lá, ó! Já passano a língua nus dente cumu quem diz: hoje eu vô tirá a barriga da misera. E nu é qui a Badú envinha de fastu assim, ó, beranim a moita da onça, e ela, ó! Nhoc! Agarrô e foi cumeno, cumeno. A coitada grito inté num podê mais. A onça cunsumiu ela tudim num impruviso.

 

MAROCA    - Quê mais?

 

ZEFERINO - Quê mais qui nada, uai! Cumeu, cumeu, tá cumido. A onça intocaiô e foi durmi.

 

(Maroca chora e suspende a barra da saia para assoar o nariz. Zeferino arregala os olhos  diante do quadro)

 

MAROCA    - Cumé qui pode? Logo a cumá Badú? Cê já viu u’a disgrama maió du qui essa, sô?

 

ZEFERINA  - Já, já. De vaca é bem maió.

 

MAROCA    - E purquê cê num desceu pá ispantá a onça, seu bosta? Dexá ela cumê a cumá Badú tudim assim, sem movê u’a paia?

 

ZEFERINO  - Cê besta muié. Ieu sô lá boiota de i fazê bunito nas fuça du’a bichona feroz daquela? Tava sem garruncha, nem nada. Num tem nutiça de macho qui infrentô onça só cum purrete.

 

MAROCA    - Molóide. Cê é um monte de bosta, medroso.

 

ZEFERINO  - Medroso, né? Quiria vê ocê nu meu lugá, ieu garantu qui já tinha burriado tudo na saia, purquê carça já vi cocê num tem custume de usá!

 

MAROCA    - Qui cocê disse, seu relaxado?

 

ZEFERINO  - Nada. Mais cocê ia té cai lá do pé de pau de medo, ah! Isso ia.

 

MAROCA    - Caia u’a  pinóia! Eu fazia era descê e ispantá a danada.

 

ZEFERINO  - Ah é, valentona? Cumé quiocê ia fazê isso? Mi conta?

 

MAROCA    - Fazeno, uai. Discia,  passava a mão num purrete e falava: Chiba onça!

 

ZEFERINO  - Chiba, Maroca? Cê ia falá chiba pru’a onçona pintada braba daquela? Chiba é pá ispantá cabrito, sua tonta.

 

MAROCA    - Num quero sabê. Só sei que cagano de medo qui nem ocê fico, ieu num ia ficá não, imbuschiado. Inda mais veno a onça negaciano minha cumá Badú. Antes quela desse o bote ieu carcava u’a purretada na creca dela qui ela ia si iscafedê nu capuerão.

 

ZEFERINO  - Tô té veno. A galuda cum  purrete na mão ispantano onça braba. Truco!!

 

MAROCA    - Ah, vai tombano, palermão. Cê num vale uma picada de fumo ruim, seu prasta.

 

ZEFERINO  - É ocê? Môi dispois da janta. Vem cum valentia agora cum as porta e as  janela tramelada. E assunta só o qieu vô falá: Trata de rezá reza braba purquê aquela onça vai batê qui logo de noite. Ela tava cum cara di qui num ficô sastifeita só cu’a Badú, não. E pelo vermei no zói, ela gosta de cumê muié medrosa qui nem ocê.

 

MAROCA    - Tá quereno mi passá medo, é?

 

ZEFERINO  - Ieu não, purquê cê já tá é bustiano de tanto medo. Vô inté mim imbora qui já tá a maió catinga qui. Fum! Cumeu carniça, trem?

 

MAROCA    - Vai tratano memo de azulá daqui, iscumungado, quieu num sô de ficá prantada aturano disaforo de marmanjo impricante qui nem ocê não. E tomara qui quando ocê tive travessano a pinguela, a onça há de vim dum lado e a sombração da cumá Badú do ôto. Quero vê ocê tremê qui nem vara veide e cai de diponta no corgo.

 

ZEFERINO  - Ara, vai pentiá macaco, sô.

 

MAROCA    - Pentiá a sua gafurina? Nem vê! Vai ocê, cara lambida. Vai peidá n’água pá modi fazê borbôia.

 

ZEFERINO  - Vai ocê, ragaçada.

 

MAROCA    - Abiúdo.

 

ZEFERINO  - Iscanchelada.

 

MAROCA    - Bolostrô

 

ZEFERINO  - Panfunça.

 

MAROCA    - Aqui ó! Taca procê.

 

(Vão se xingando até Zeferino Sair)

 

MAROCA    - Onça braba! Que mané onça braba qui nada. Só lá muié de tê medo du’a onça senvergonha que só vévi de cumê cumade sonsa qui num óia donde anda? Cá essa miserenta num pisa. Se apontá o fucim aqui, escadero a buxuda cu’a mão de pilão qui ela vai vê o quê qui é bão pá tosse. Sombração da cumá Badú num há de parecê puraqui, vô cumeçá rezá é agorica memo, pru ispririto dela ficá bem incumendado. In todus caso, xô fechá tudo bem fechado e dexá nu jeitu a mão de pilão. Quarqué coisa, ó! Tama danada!

 

(Maroca anda preocupada conferindo portas e janelas e mão de pilão)

 

MAROCA    - Vô rezá pá cumá Badú, tadinha. Cumé qui pode u’a coisa dessa, minha cumadi cumida? Tem dó dela, pai do céu. Ranja um cantim no jeito prelaí. Elera mei mitida a sabichona, mei serelepe, sirigaita, introna, mei futriquera, intipática, inredera, mei pidona, mei pinguça, mais era boa bisca isso era. Num bate a porta do céu nas fuça dela não, viu? Purquê sinão ela vorta cumo arma penada pá maliná cum a gente que só qué paiz e sussego. Por isso, vô rezá de juei qui nus pedrigui mili trezentas Ave Maria e quinhentos Padre Nosso, trezentas Sarve Rainha e duzentos Creindeuspai. E pruveitano essa rezaiada tudo, vê se dá um jeito de mandá a carnicenta dessa onça prus quinto dus inferno, purqui sinão eu num prego as pestana a noite intirinha.

 

(Ajoelha-se e reza. Luz se apaga. Ao acender Maroca está durmindo. Som de ventania. Uivo de lobo. Miado de onça.)

 

MAROCA    - (Acordando num salto) – Chiba onça! Xô! Passa! Sai! Chipi! Num me papa não pelamore! Nem pruveitei a vida, num casei, nem bulinei cum macho. Tem dó dessa coitada qui nunca nem brincô de casinha, nem feiz bobage cum minino homi. Aiiii! (Acorda) – Ai, a valença quiera sonho. Qui apuro quieu passei, sô! A bocuda já ia mi passano os dente!... A disgrama é quieu tô na maió vontade de obrá, de mijá, tudo junto. Ai, meu São Bedego das perna torta, valei-me nessas hora de aperto. Isquici o pinico lá na bica.Só se eu fazê o sirviço qui memo pelo chão. Mais minha mãe sempre falô que cagá dento de casa dá cobrero no rabió. Icha, tá apertano mais cada veiz. Se num dé u pira vai sê um disguverno qui memo. Purquê fui fazê a privada lá nus cafundó?...Qué sabê? O jeito é infrentá o iscuridéu cu’a lamparina memo. Xô levá essa mão de pilão prus causu de topá cu’a iscumungada.

 

(Maroca vem caminhando com a lamparina e a mão de pilão. Anda com dificuldade por causa do aperto)

 

MAROCA    - Tá o maió breu, meu pai do céu.

 

(Badú aparece do outro lado toda desarrumada e suja)

 

BADÚ                   - (Abrindo os braços) Cumá Maroca, decá um abraço bem arroxado.

 

(Maroca estaca. Deixa a lamparina cair e a mão de pilão. Caga-se toda)

 

MAROCA    - Cú Cú Cú Cú

 

BADÚ                   - Qui quê isso, muié? Issu é jeito de mi sordá? Falano bobajada?

 

MAROCA    - Cú Cú Cumá Badú?!

 

BADÙ                   - De memo. Im carne e osso (Badú vai abraçá-la)

 

MAROCA    - Jeusuis Maria Jusé, valei-me nesse val de lágrima. Dá sussego pressa arma penada. Levela de vorta pu céu.

 

                   (Maroca desanda a rezar. Badú pega em seus braços. Maroca grita. Badú a sacode)

 

BADÚ          - Qui berrero é esse, muié? Fecha essa matraca veia.É ieu, Badú.

 

MAROCA    - Num me leva não,Cumá Badú, pelamore!!! A Tuíca vai pruduzi leitãozinho presses dia e tá pircisano muito dieu. Tem tamém o garrote da maiada cum bichera. A galinha Chiquita...a galinha chiquita pode impistiá. As criaçõa tudo não vévi sem ieu pá modi trata desa. Num mi leva não, pelamore, num me leva não.

 

BADÚ          - Ô Cumá Maroca, cê só vai se quisé.

 

MAROCA    - Puis intão num quero, num quero de jeito manera ninhuma. Vorta sombração, pira daqui, purquê daqui eu num arredo pé. Leva cê num mi leva não.

 

BADÚ          - Tá bão criatura, num qué í pá cidade num vai, mais pur tudo quantu há di mais sagrado, pára cu’esse fuá e mi fala o menu banoite.

 

MAROCA    - Falo cidade? I arma penada leva agente é pá cidade?

 

BADÚ          - Arma penada? Qui Mane arma penada? Ô meu pai, minha cumá Maroca indoidô de vera, num tá falano coisa cum coisa. Pelo jeito num tá atinano nem pá tirá as rôpa fazê as necessidade. Fum!... Qui pisero! Cago nas carça tudo, tadinha!

 

MAROCA    - Cê num morreu?

 

BADÚ          - Qui morre qui nada. Só tô um poquim ismulambada de tanto muê saroba pirdida nesse capuerão.

 

MAROCA    - Mai a onça num ti passo no chebréu? O Zeferino viu a onça ti cumeno tudim lá nas furna qui só dexô os cotoco dus pé dento du sapatim.

 

BADÚ          - Ô mintira iscalavrada!

 

MAROCA    - Num é mintira não, o Zeferino viu.

 

BADÚ          - O Zeferino intão ti passo a maió mintira, aquele disgranhento . Cumé quiocê foi caí nu’a isparreela dessa?

 

MAROCA    - Intão cê num tá mortinha cumida no buxo da onça?

 

BADÚ          - Tô intirinha, ói sô! Pode inté dá um pinicão.

 

                   (Maroca belisca-a)

 

BADÚ          - Ai.... tamém num pricisa rança pedaçu.

 

MAROCA    - Aqueli fii du’a égua mi paga. Vô tirá forra no lombo dele. Dexêle vim cum aquela cara lambida pá modi mi inche as paciença quieu prego a mão nas venta dele.

 

BADÚ          - Puis intão, muié. Tô qui mais viva du qui nunca. Vem cá, mi dá um abraço pá mata sodade.

 

MAROCA    - Peraí, Cumadi, gora não. Vô tê qui mi lava ali na bica. Tô toda cagada.

 

BADÚ          - Issu tudo foi medo deu morta?

 

MAROCA              - Nada. Num sô muié di tê medo. Ieu tô disandada dus intistino, Tô tombano vassora pur causa duns torresmo remoso quieu cumi ontonte.

 

BADÚ          - Vô lá cocê. Tô qui nem picum. Os pé tá tão chei de macuco, qui pá dá cabo vô tê cussumi u’a muntuera de buxa inté tirá o godó. Andei di deu im deu pirdida nesse capuerão aí tudim caçano o triero qui dá qui. Fui Pará lá nu brejo do rabiabode. Foi um custo topa um cristão pá mi insiná u rumo. Fui apiá da jardinera lá du oto lado quieu tô sem custumi de anda, mi istrepei.

 

MAROCA    - Caminha (Badú vai saindo rápido) Cumá Badú, vamu ino divagazim qui tem um lugá iscurreguento logalí.

 

                   (Maroca passa por Badú)

 

BADÚ          - Mais qui fedô, cumadi!

 

MAROCA    - Quem vê ansim, pensa qui num caga.

 

                   (Afastam-se.Sons noturnos da roça. Fecha-se a luz e reabre em Maroca e Badú dentro de casa)

 

MAROCA    - Mais ocê ismagreceu dum tanto, hem muié, tá um fiapo! Lá na cidade num tinha o qui cumê não?

 

BADÚ          - Ara cumadi, a magreza é di natureza. Cê sabe quieu sempre tivi poço pititi. Nunca fui di cumê muito.

 

MAROCA    - É. Ô menu esse defeito de isganação cê num tem.

 

BADÚ          -Óia a mulambera qui viro a rôpa quieu tava onti, chei di carrapicho, barrela. Num tem mais sirvintia u’a coisa dessa.

 

MAROCA    - Ieu incabulo cumé quiocê deu conta de ficá pirdida num lugá qui ocê cunheci de cor e sartiado.

 

BADÚ          - É qui a cidade viro minha cabeça, cumadi. Quando apiei no capuerão fiquei qui nem barata tonta. Num sabia si lá era cá, si cá era qui ô aculá.

 

MAROCA    - Nessa disgrama di cidade intão é quieu num trisco o pé. Cê besta, í num lugá que faiz agente perdê o rumo, Sô. Num vô não.

 

BADÚ          - Tamém sô mei avuada. Isqueço dipressa dimais das coisa. E sei qui num muié qui vêi no mundo pá leva vida de rocera, decora triero no capuerão. Vim no mundo memo foi pá moa lá na cidade, isso é qui foi, caminha naquelas rua feerveno de gente. Iscutá musga na radia, vê novela de telvisão. Cê já iscutô radia, né?

 

MAROCA    - Aquele caxote falado? Iscutei, sim. Lá nu Zé Bregué tem um qui fala e canta o dia intirim, quieu num sei cumu num fica roço um trem daquele. Ieu é qui num sô doida de ispirdiçá nem um mirreis cum troço daquele só pá ficá zuano nu pé du meu uvido. Mais é di jeito manera ninhu’ª

 

BADÚ          - Mais aquele rádio do Zé Bregué é um tramboião véi...

 

MAROCA    - É não Cumá Badú

 

BADÚ          - É sim

 

MAROCA    - É não

 

BADÚ          - É sim. Lá na cidade tem uns rádio piquititim assim, ó, cocê podi inté carregá na gibera.

 

MAROCA    - Di Vera? I vai falano na gibera do memu jeitu?

 

BADÚ          - In corqué lugá. É só liga.

 

MAROCA    - Ah! Credo. Já tomaro o lugá do papagaio no mundo.

 

BADÚ          - Isso é puquê cê num viu telvisão. Cê vai abisma.

 

MAROCA    - Cumé qui é?

 

BADÚ          - É du tipo dum caxote tamém. Só qui fica passano gente, otomovi, tudo quantuá lá no quadrado qui tem.

 

MAROCA    - Cumu passano?

 

BADÚ          - Cumé quieu vô ti ispricá? Ah! É iguar cê ficá oiano pum caxote, assim ó... um caxote assim...aí fica aparaceno gente falano, abraçano, bejano unzônzoto na boca e inté....

 

                            (Badú cochicha algo com Maroca)

 

MAROCA    - Inté!?

 

BADÚ          - É. I tem u’a tar de novela quiocê num querdita. Cada coisa.

 

MAROCA    - I Ocê fica oiano essas senvergonhera tudo?

 

BADÚ          - Todo mundo óia. Mininada cresce oiano isso.

 

MAROCA    - É o fim du mundo, uaí!?

 

BADÚ          - Né nada. Garanto cocê tamém vai gosta. Todo mundo gosta. I óia, cê pode té parecê nesse caxote e ganhá muito dinhero.

 

MAROCA    - Tá doida muié? Quero distança dessas doidera di cidade. Num tem nada qui cherá lá.

 

BADÚ          - Cidade é iguar jabuticaba. Quanto mais a gente porva, mais a gente qué.

 

MAROCA    - É. Mais podi incaiá.

 

BADÚ          - Cidade é bão dimais. Lá a gente é.... como ser ôto!

 

MAROCA    - Ecu! Lá cê comi serôto? I pricisa í pá cidade pá cumê serôto, porcaiona? Comi serôto qui memo. É só iscrafunchá as venta.

 

BADÚ          - Ah, num faiz de isquerda, cumadi. Cê sabe muito bem quieu tô quereno dizê, qui lá na cidade é dota manera. A gente fica assim mais ... mais...

 

MAROCA              - Mais  insibida?

 

BADÚ          - Não!

 

MAROCA    - Mais sirigaita?

 

BADÚ          - Mais ocê, hem cumadi? Num perdi u’a de iscrachá cum agente.

 

MAROCA    - Ocê num vai querê quieu querditi qui lá na cidade, ocê num é a mema Cumá Badú insibida i ispicula quieu cunheço.

 

BADÚ          - Ocê qui num sabe. Muita gente lá na cidade nem mi chama de Badú. Mi chama é de Bels Cate!

 

MAROCA    - Tá bão, Bels ?Cate. Pá riba dieu? Tama brii nessa cara di vaca, sô. Esse óo da cidade fica é mangano da sua matutage.

 

BADÚ          - Hum! Inveja quando num mata, aleja.

 

MAROCA    - Invaja de sê chamada de Bels Cate? Dêxa de sê bocoió!

 

BADÚ          - Ocê num imenda di vida memo, né Cumá Maroca? Entra ano e sai ano, continua nu meo azedume. Isso é farta sabe di quê?

 

MAROCA    - Di quê?

 

BADÚ          - Sabe di quê?

 

MAROCA    - Di quê?

 

BADÚ          - Di homi.

 

MAROCA    - (Dando um salto) Num vem não. Num vem quieu num sô rapariga, cadela, muié da vida, senvergonha qui vévi trepano nas parede pá modi tê machu. Sô dereita. Dereita.

 

BADÚ          - Pronto. Gora ieu vi. Num sei purquê fui falá im praga de homi.

 

MAROCA    - Num sô sirigaita de inrabichá im macho, não. I óia qui tem muito sói gralado mi nagaciano puraí. Homi, homi, homi... tô nem aí... homi...

 

BADÚ          -Vamu dismudá di assunto

 

MAROCA    - É mio memo, muito mio.

 

BADÚ          - Cumá Maroca, óia o quieu truche prucê vê cumu qui lá na cidade tem uns trem danado de ispiciar. (Tira um binóculo da mala) Ispia só isso.

 

MAROCA    - Num quero vê nada, não.

 

BADÚ          - Óia pu cê vê, Sô.

 

MAROCA    - Mi laiga, vai

 

BADÚ          - Ispia, Cumá Maroca!

 

MAROCA    - É um filipi? Filipi di quê? Qui diabo é isso?

 

BADÚ          - É du tipo dum ocro pá ispiá lá lonjão, assim ó! (Demonstra) Chama Bi-no-crú.

 

MAROCA    - Chovê! (Pega e olha para a platéia) Nossa!! Qui chusma di gente!

 

BADÚ          - Óia lá diante!

 

MAROCA    - Credo! O Zé Bregué invadiu minhas terra? Tá qui beranim, beranim. (Tira o binóculo) Uái, qui trem besta, sô. Chove traveis. (Olha ao contrário) Ih, gora ficô tudo nu’a lonjura qui só veno.

 

BADÚ          - (Arrumando) Tá errado, é assim, ó!

 

                   (Maroca olhando e se divertindo)

 

MAROCA    - Óia o marruco tretano cu’a nuvia.Êpa, é o Zeferino lá no corgo. Tá desceno as carça.

 

BADÚ          - (Interessada) O quê?

 

MAROCA    - Fico peleco, curuis! Que quié aquilo balangano no mêi das perna?

 

BADÚ          - (Anciosa) Aquilo o quê? Mêi das perna?

 

MAROCA    - (Abrindo a boca) Óia, Óia, põe sintido!

 

BADÚ          - (Tomando o binócilo) Cadê?Cadê? Chave (Localiza) Tende piedade de nóis. O diabo é um jumento.

 

MAROCA    - Num quirdito nu qui vi! Chove di novo.

 

BADÚ          - Peraí. Ele tá insabuano.

 

MAROCA    - Insabuano o quê?

 

BADÚ          - O trem. O trem tá coisano.

 

MAROCA    - O quê? Tá coisano o quê?

 

BADÚ          - O trem sô! Tá inchano e isticano.

 

MAROCA    - O quê?

 

BADÚ          - O trem sô.

 

MAROCA    - Ah, não! Chvê isso traveis. Cué qui podi?

 

BADÚ          - Dá cabra e não dã bode. Dêxa quieu vô ti contano o quieu tô inchergano.

 

MAROCA    - Qui mane contano. Quero vê si não num quirdito. Decá.

 

BADÚ          - Parai.

 

MAROCA    - Decá esse ócru inredero.

 

                   (Se atracam pelo binóculo. Maroca pega)

 

BADÚ          - Assanhada! O binócrué meu.

 

MAROCA    - Cadê o corgo? Cadê o corgo? Alá... ô disgrama, o jumento já boto as carça.

 

BADÚ          - Bem feito. Quem mando cê isganada módi macho peleco.

 

MAROCA    - Num é prucausa disso.É quieu fiquei abismada cu’aquilo.Fico uncabulada cu’esses trem doido.

 

BADÚ          - Abismada? Incabulada? Tô veno.

 

MAROCA    - É, minha fia. Num nuvia viciada qui nem ocê não. Ieu tem cumpustura! Cumpustura!

 

BADÚ          - Mais quase qui trepô nas parede só di vê o pinguelão do oto balangano.

 

MAROCA    - Pó pará! Pó Pará, sua intojada!

 

BADÚ          -Tá bão! Tá bão! Mais cá prá nois, esse Zeferino hem? Cu’aquela ara di boi sonso! Quindiria!

 

MAROCA    - Só di imagina o pirigo quieu vem correno minha vida intirinha, mi dá inté suadera.

 

BADÚ          - É memo um pirigão! Té mais. É um prigãozão zão zão. Dá suadera é poco.

 

MAROCA    - Num amola. Num Tõ di graç, não. Indesdi onti quieu tô tiririca cum amintira qui aquele disgranhento me prego, Ele mi paga.

 

BADÚ          - Qu~e cocê tá di carco fazê?

 

MAROCA    - Tô qui matutano. Dexistá.

 

BADÚ          - Quê cocê achá da gente incantuá ele e passa o maió carão?

 

MAROCA    - Disso num há Duda. Mais tem qui sê dum jeito prele si imendá de veiz.

 

BADÚ          - Iscuta só. Acho qui tem um jeito bão de fazê ele pagá. Vem cá preu ti ispricá. (Confabulam)

 

                   (A luz apaga e reacende. Badú sentada. Maroca catando algodão na peneira)

 

CANTANDO         - Ai Sucena, Suceninha

 A herança qui dexô minha madrinha.

 

Mi dexô u’a égua veia

                    I tamém u’a pudrinha              

 

                    Mi dexô um galoi veio

                             I tamém u’a galinha

 

                    Mi dexô um mandioca

                    I treis quarto de farinha

 

 

                    Ai sucena, Suceninha

                    A herança qui dexô minha madrinha

 

 

                    Morreu minha égua veia

                    Deu bichera na pudrinha

 

                    Gavião pegô o galo

                    I deu peste na galinha

 

                    Porco deu nu mandioca

                    Deu caruncho na farinha

 

                    Ai Sucena, Suceninha

                    Acabo-se a herancinha

 

MAROCA    - Essa herancinha é di amarga hem, sô!?

 

BADÚ          - Êta cumadi, si ocê dexasse di sê temosa e mi desse ovido, ia correno cumigo lá pá cidade ganhá muito dinhero, cantano essa herancinha nos xô das caipirada. Povaréu da cidade apricia essas coisa dimais pur lá. Tem caipira ino inté pus istranjero e ficano rico qui num tem mais onde socá cobre só di si mostrá nos xô.

 

MAROCA    - Qui mané xô? Xô é pá ispantá galinha do terrero. I si ocê num Pará cum muita lequera, eu é qui vô pega mão di pilão pá ti ispantá pá bem longe daqui.

 

BADÚ          - Tá bão, num tá mais aqui quem falo. Pur coquè decá u’a paia, cê arma um pampero sem tamanho, adoido!

 

                   (Ouve-se uma cantoria)

 

ZEFERINO  - Ai, ai, ieu num como fejão crú

                      A onça lá nu mato

                      Cumeu minha Cumá Badú

 

BADÚ          - Envem um cantano puraí.

 

MAROCA    - I essa canturia é du Zeferino. Corre iscondê , Cumá Badú, pá gente podê  fazê aquilo.

 

                   (Badú sai depressa. Maroca se prepara. Zeferino entra)

 

ZEFERINO  - Tarde, Maroca!

 

MAROCA    - Tarde, Zeferino. Cumé qui vai?

 

ZEFERINO  - Tô ino, né? Qui novidade é essa? Cu’as porta e janela tudo iscancarada. Co num é disso! Véve incroada qui dento cum tudo tramelado.

 

MAROCA    - Nada! Vamo entrano, Zeferino.

 

ZEFERINO - Uai, ieu tô môco ô iscutei de memo ocê chamano pá entra?

 

MAROCA    - Dêxa di indaca, sô. Vai entrano e sentano pá nois leva uns dedim di prosa.

 

ZEFERINO  - Num tô falano/ Aí tem coisa! Tô cismado quisso! Tô cu’a purga atraiz da orêia.

 

MAROCA    - Tá urdino o quê, sujeito? Senta e conta o causo da onça traveis.

 

ZEFERINO  - Inda tá alembrada?

 

MAROCA    - Cuma quieu pudia isquecê i a Cumá Badú levo a breca nessa?

 

ZEFERINO  - É memo! Treim fei aquilo. I cumé cocê passo a noite?

 

MAROCA    - Conformei, né? Oto jeito num há a num sê conforma.

 

ZEFERINO  - É. Poizé.

 

MAROCA    - Vai, mi conta traveis.

 

ZEFERINO  - Ah, não. Traveis não. Num é bão ficá remoeno um treim medonho daquele não, Maroca.

 

MAROCA    - Remeda cumé qui a Cumá Badú envinha e cumé que a onça bocó ela. Remeda ezaí.

 

ZEFERINO  - Ocê diz préu remede fazeno di conta iguar qui nem qui foi, cum pulo e tudo?

 

MAROCA    - É, remeda!

 

                   (Zeferino faz a maior mis-em-scéne. Pulando e urrando)

 

MAROCA    - Mais o treim foi danado de fei, hem sô?

 

ZEFERINO  - Pois é, foi assim, desse jeitim, sem tirá nem pó.

 

MAROCA    - E a onça cumeu a Cumá Badú tudim?

 

ZEFERINO  - Tudim, tudim, tudim.

 

MAROCA    - Num dexô nenhum finarisquim pá contá o causo?

 

ZEFERINO  - Nadica de nada. Nunhum pingo.

 

MAROCA    - Cê jura cumu tem Deus no céu qui a onça cumeu meno a Cumá Badú?

 

ZEFEERINO         - E tem pricisão de jurá?

 

MAROCA    - Jura qui a Cumá Badú tá mortinha cumida no bucho da onça?

 

ZEFERINO  - Juro puresse sor qui mi alumêia.

 

MAROCA    - Num tem sor ti alumiano não, carudo; Cê tá na sombra. Jura assim, ó: Se fô intira qui a onça cumeu a Cumá Badú, ieu como u’a pratarrada de bosta.

 

ZEFERINO  - Quê quê isso, muié?

 

MAROCA    - Jura ô num jura?

 

ZEFERINO  - Ju juro.

 

MAROCA    - Intão jura, vai: Si fô mintira qui a onça cumeu a Cumá Badú, como u’a pratarrada de bosta.

 

ZEFERINO  - Num sei prá quê um juramento porcaião desse. Mais vai lá;

 

MAROCA    - Jora logo, sô. Ô qué ficá cum fama de mintirosa? Arrepete: Si fô mintira eu como u’a pratarrada de bosta.

 

ZEFERINO  - Si fô mintira, eu... eu...

 

MAROCA    - Como u’a pratarrada de bosta.

 

ZEFERINO  - (Depressa e enrolando) Como u’a pratarrada de bosta.

 

MAROCA    - Quê? Fala direito qui num deu pá iscuitá.

 

ZEFERINO  - (Gritando) Como u’a pratarrada de bosta.

 

MAROCA    - Ah, bão! Ô Cumá Badú traiz a merenda do Zeferino quele tá esfomiado.

 

                    (Badú entra com um prato cheio. Zeferino fica boquiaberto)

 

BADÚ          - Quê colidade ocê apreceia, Zeferino? DE gente, de vaca, ô de poico?

 

MAROCA    - Ieu acho quele apreceia tudo conto é colidade, Cumá Badú. Zeferino é bão de garfo, né Zé?

 

ZEFERINO  - Quê qui aconteceu, meu pai? Fiquei ceguim, ceguim. Num tô veno nada.

 

MAROCA    - Ceeguim, ceguim, né? Cê topa, caboco. Hoje ocê imenda de vida.

 

ZEFERINO  - Tô surdim, surdim tamém. Tô iscutano nada. Tá tudo iscuro e zunino.

 

MAROCA    - Ceguim e surdim, né?Intão vai pricisá du’a mãozinha pá merenda. Decá esse prato de bosta, Cumá Badú.

 

                   (Maroca pega o prato e enfia na cara de Zeferino. Escurece. Ao reacender, Badú olha aflita pelo binóculo, as lonjuras. Maroca cata algodão)

 

MAROCA    - Quê cocê isbiúta tanto nesse ócru, muié? Já tá u’a era prantada aí. Tá caçano chifre im cabeça de égua?

 

BADÚ          - Num tô veno aqule corgo.

 

MAROCA    - I u quê qui ocê qué cum corgo?

 

BADÚ          - Ah! Ieu quero dá u’a ispiada lá pá vê as tabôa que dá na bera. Acho tabôa um treim tão bunito. Faiz um tempão qui num vejo tobôa. Vem cá Cumá Maroca, Taboa é fulo ô quê qui é?

 

BADÚ          - É ispicula! Danada de muié ispiculante! Ieu sei a taboa cocê tanto prucura. É aquela qui tá incuida no mêi das perna do Zeferino, né? Ô taboona!

 

BADÚ          - Nem tava alembrano disso criatura e vem ocê cu’essa pataquara?

 

MAROCA    - Dô minha cara a tapa se ocê num tá quereno é vê o Zeferino insaboano lá corgo, dô minha cara a tapa.

 

BADÚ          - Tá bão. I si fô? Num é du seu nariz.

 

MAROCA    - Toma vergonha na cara, ô disbriada!

 

BADÚ          - Alá o Zeferino. Tá vino prá cá. Vô pruveitá prá chama ele prá nois i prá cidade.

 

MAROCA    - O qu~e?

 

BADÚ          - Já num ti falei qui lá na cidade o povo tá pagano os zói da cara pavê caipirada? Puis intão, o Zeferino é bão de prosa, ieu sô boa de canturia. Boba doce qui num qué i tamém.

 

MAROCA    - Cê Tá quereno qui eu querditi que na cidade o povo vai ficá pagano prá vê essa sua sengracera concanturia e inda dá ovido pus causo disimxabido do Zeferino? Num vão achá graça nem fazeno cosca no subaco.

 

BADÚ          - Puis eu vô chama ele é já. Xô passa um xêro nu cangote. (Sai)

 

MAROCA    - Leva o Zeferino pá cidade prele contá os causop lá? Mais nem vê. I quem é qui vai mi inche as paciença cum aquesa histora mau urdida dele? Dexá leva ele pá cidade? Mais nem vê. Ruim cum ele, pio sem elçe. Vô é caçá um jeito de istrumá os tiu pá riba dessa introna da Cumá Badú prela caça oto rumo.

 

                   (Zeferino entra)

 

ZEFERINO - Boa!

 

MAROCA    - Bô, Zeferino! Bamo entrano.

 

ZEFERINO  - Ieu ia passano, vi as porta aberta e arresorvi dá um pulim aqui pá sabê nutiça. Comé cocêis tão?

 

MAROCA    - Bamo ino...Comequié? Tem topado muita onça?

 

ZEFERINO  - Onça? Qui onça?

 

MAROCA    - Num é ocê qui é danado pavê onça cumeno gente?

 

ZEFERINO  - Nada. Vêis ô ôta, sô. Coisa poça, quase nada. Bendize  nadica di nada. Mais mudano de pau pá cacete, cadê a Badú?

 

MAROCA    - A Cumá Badú vortô pá cidade...

 

ZEFERINO  - (Aparecendo) Tô qui Zeferino. Quiria memo prusiá cocê.

 

ZEFERINO  - Di meo? I corquié o assunto, minha fulo?

 

BADÚ          - Qué ganhá dinhero inté injuá?

 

ZEFERINO  - I tem cumu injuá disso?

 

BADÚ          - Sentaqui preu ti ispricá.

 

                   (Zeferino se senta no banco com Badú. Maroca senta entre eles)

 

MAROCA    - Dexeu assunta essa prosa tamém.

 

BADÚ          - Ô cunha! Sai prá lá. Num vê qui num cabe mais ninguém nesse banco? Vai aprocá esse bundão lá no mato.

 

MAROCA    - O banco é meu, a casa é minha, ieu sento adonde ieu quisé.

 

BADÚ          - Intão reganha aí nesse banco. Comi essa disgrama. Ingole!

 

ZEFERINO  - Quê quê isso muiezada? Ô Badú. Ô Badú, vamo dá um dervorteio. Bamo prusiá lá na bera do corgo. É inté mio.

 

MAROCA    - Bera do corgo? Quê isso pessoar? Pode ficá à vontade! Tava era brincano. Ocêis pode prusiá qui, inté! Ieu vô passa um cafezim fresquim. Vô num pé e vorto noto.

 

                   (Maroca sai)

 

ZEFERINO  - Só pode sê milagre. A Maroca di prontidão ofereceno café fresquim?

 

BADÚ          - Ah, dexela prá lá! Iscuta só: Quê cocê caha da gente apiá lá na cidade e ganha dinhero inté istufá as capanga e amarra cum imbira?

 

                   (Maroca na cozinha passa o café)

 

MAROCA    - Invuçunera dessa Badú. Só sabe cupiá moda. Vai ficá trumentano inté virá a cabeça do pangó. Mais ela topa. Vô fazê um feitiço brabo quiele num vai arreda o pé da barra de minha saia. (Passa o café) Gora vô passa um cafezim ispicial pó Zeferino. Esse café qui minha madrinha Cilistina mi insinou é tiriqueda. (Tira a calça e passa o café nela) Ele num vai nem querê sabê de cidade. Prontim, xô levá prêse.

 

(Badú e Zeferino na sala. Ele se levanta)

 

  ZEFERINO         - Já té invô prá casa ruma as trôxa, Badú. Conde qui a gente dá no pe´?

 

BADÚ          - Hoje memo. Tô qui ti isperano.

 

MAROCA    - (Entrando) Oi o cafezim.

 

ZEFERINO  - I a Maroca num vai tamém?

 

BADÚ          - Cumá Maroca é do ovo virado. Num põe sintido em nada cá gente dala. Acha qui é tudo pataquara. Nóis duas pudia agrada e muito pur lá cantano a herancinha, fiano e cardano argodão. Cansei de falá prela, mais ela nem tchum, entra num ovido e sai noto.

 

MAROCA    - Num sô de ficá insibino pá gente tonta da cidade. Tem mais o qui fazê

 

BADÚ          - Num cabei de falá?

 

MAROCA    - (Distribuindo o café) Tama o seu, Badú. Essa caneca é sua Zeferino. Fiz cum muito zelo procêis.

 

                   (Ouve-se barulho de porcos no chiqueiro)

 

BADÚ          - Qui baruiada é essa?

 

ZEFERINO  - É lá no chiquero.

 

MAROCA    - Minha nossa! Os cachaço deve tá incantuano a tuíca. A coita tá mojano. Xô corre lá.

 

 (Maroca sai correndo)

 

BADÚ          - Curuis, oi o mijico de café quela mi deu.

 

ZEFERINO  - I óia a canecada qui sobrô prá mim? Tama. Vamo breganhá as caneca qui hoje ieu já dei u’a incharcada de café lá no Zé Bregué qui meu istambo tá té rivirado. (Trocam as canecas)

 

BADÚ          - Decá qui café faiz passa a fome. Hoje numbiliquei nada ainda. Meu istambo tá rivirado é de fome. Cumá Maroca num feiz armoço, nem nada inté agora. Parece qui tem medo di suja panela. (Tomam o café)

 

BADÚ          - (Estranhando) Diacho de café cum gosto de bacaiau. Será qui é minha boca?

 

ZEFERINO  - Vai vê qui é purquê cê tá di istambo vazii.

 

BADÚ          - (Bebendo de novo) Ah, não! É bacaiau memo. I dauele cumeçano pudrecê.

 

ZEFERINO  - Ieu num sinti nada nu meu. Cumpôco é a caneca qui tá suja de bacaiau.

 

BADÚ          - Só pode sê. Vô bebê mais não.

 

                   (Abandonam as canecas. Maroca entra)

 

MAROCA    - Era a tuíca memo. A coitada tá apurada cum aquele barrigão qui num acha jeito nem di se deita, foi passa imbaxo da cerca fico ingastaiada.

 

BADÚ          - (Enfeitiçada) Cumá Maroca! Cê demoro tanto lá no chiquero

 

MAROCA    - Demorei não, fui dipressinha.

 

BADÚ          - Demoro sim, quieu tava im tempo de morre de sodade. Ocê é tão mimosa, cumadinha do meu coração. Óia esses zóim qui mais parece dois tucum madurim, madurim. Ai, e esse cabelo maciim de buneca de mii, tão gososo de pega assim inté drumecê a mão.

 

MAROCA    - Ê, sai prá lá treim. Gora deu pá mi adula atrôco di quê?

 

BADÚ          - Cumu cocê é bunitinha, Cumá Maroca. Dexeu ti abraça.

 

MAROCA    - Mi sorta, meleta. Tá variano?

 

BADÚ          - Tama u’a bicotinha nessa buchechinha.

 

MAROCA    - Mi larga trumento! Quê cocê viu?

 

ZEFERINO  - Mais ocêis cumbina memo, heim? Num sabia cocêis era tão pregada u’a ca ôta.

 

MAROCA    - Ô Zeferino, ocê num tem nada pá falá dus meus zói?

 

ZEFERIBO  - Chove. Ah, tem u’a remela aqui no cantim.

 

MAROCA    - Não, òia direito. Òia o meu surriso. Quê cocê acha?

 

ZEFERINO  - Acho cocê num iscovô os dente.

 

MAROCA    - Ih! Uai, sô. O treim faiô? Num pode. Receita da minha madrinha Cilistrina num é de faia. (Volta-se para Zeferino) Ô Zeferino, óia bem preu, quê cocê tá sintino?

 

ZEFERINO  - Tô sintino u’a vontade danada sabe de quê?

 

MAROCA    - De quê?

 

ZEFERINO  - De caga. Xô corre na privada.

 

MAROCA    - Cê tomo o café quieu ti truche?

 

ZEFERINO - Tá nu bucho. Peraí quieu já vorto.

 

                   (Zeferino sai. Maroca fica sem entender)

 

MAROCA    - Cadê as caneca?

 

BADÚ          -Tá qui meu benzim. Num dei conta de tomá tudo purquê a caneca tava cum gosto orrivi de bacaiau. Cê guardo bacaiau nessa caneca, meu mozim?

 

MAROCA    - Che!... Foi ocê qui tomo o café dessa caneca?

 

BADÚ          - O Zeferino braganhô cumigo purquê quiria só um tiquim.

 

MAROCA    - Ai meu São Bedego das perna torta, intão é pur causa disso qui ocê tá nessa pregança? Qui quieu faço?

 

BADÚ          - Num faiz nada minha fulo di goiaba. Dêxa quieu faço tudim procê. Mi dá u’a bicota, mi dá?

 

MAROCA    - Sai prá lá Berzebú, tira essas mão gosmenta de riba deu. Vô prucurá a Tonha macumbera prá dismanchá esse feitiço. Adoido sô, dei cus burro n’água.

 

 

 

 

 

                                                                       Fim

Giz-no teatro

Frases de atores de teatro

 

" A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por

isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a

cortina se feche e a peça termine sem aplausos.

 

" para bem conhecer a naturaza dos povos, é necessario ser

príncipe, e para bem conhecer a dos príncipes, é necessario

pertencer ao povo.


" O teatro é o primeiro soro que o homem inventou para se

proteger da doença da angústia.

 

" A mente humana é um grande teatro. Seu lugar não é na platéia, mas no palco

brilhando na sua inteligência, alegrando-se com suas vitórias, aprendendo com as

suas derrotas e treinando para ser a cada dia, autor da sua história, líder se si

mesmo!