Em pratos limpos
De, Glória Teixeira
Três mesas postas para pessoas de três classes sociais: alta, média e baixa, em cena simultânea, separada no tempo por pausas e música e no lugar por plataformas.
O espetáculo começa com as mesas já ocupadas. Alguns ainda estão por chegar.
A luz demonstra horários.
1a. cena – classe média
Personagens: Marido (Maurício) com: irmão (Paulo), irmã (Ilma), pai (Pires), mãe (Julia)
Esposa (Mirtes) com a mãe (Dona Carmem).
Vizinhos: Esposo (Tadeu), esposa (Virginia).
Estão sentados à mesa: Maurício, Seu Pires, D. Julia e D. Carmem.
Maurício (levemente alcoolizado) – Eu queria saber porquê desse negócio de Domingo o almoço sair tão tarde!
D. Carmem – é que no domingo, minha filha capricha mais.
D. Julia – é nada! É lerdeza mesmo. Meu filho tem toda razão.
(um momento de silêncio. D. Carmem levanta-se vagarosamente e vai saindo. A filha entra)
Mirtes – mamãe, onde vai? Já estou começando a servir.
D. Carmem – eu estou sem fome filha. Comam vocês.
Mirtes – nada disso mamãe. Você precisa se alimentar. Venha, volte para a mesa, por favor!
Maurício – é dona Carmem, volta logo, senão vai atrasar mais ainda o rango.
(d. Carmem volta e senta-se. Entra Paulo com um garrafão de cinco litros de vinho barato)
Paulo – vinho geladinho.
D. Julia – pra quê isso? Já não basta a cachaça que tomaram?
Paulo – mãe, hoje é domingo! Vê se não implica, ta bem?
S. Pires – dá logo aqui uma talagada!
Mauricio – beleza! Vou nessa!
(Paulo enche os copos. Mirtes entra com outro prato)
Paulo – a senhora aceita um copinho d. Carmem?
Mirtes – Paulo, você sabe que minha mãe não bebe.
Paulo – e você cunhadinha, vai, toma um copinho que hoje é domingo.
Mirtes – muito obrigada. (senta-se a mesa). Maurício, vai devagar com a bebida. Por favor, você sabe que não pode.
Maurício – que é isso nega? Um copinho só!
Mirtes – um copinho só!! Conversa velha.
D. Julia – vão começar outra vez? Será que a gente não pode comer em paz?
Paulo – mãe, pode comer em paz e vamos nessa que ta bom “à bessa”!
Mirtes – Paulo, você devia me ajudar e não dar força ao Maurício, trazendo bebidas pra casa.
Maurício – Mulher, mulher... para com isso que eu não sou nenhuma criança! Se quiser beber, não preciso de ninguém pra comprar pra mim. (grita) Chega disso!. (carinhoso) Eu já falei que só vou tomar um pouquinho.
D. Carmem – Mirtes, eu não sei como você suporta isso.
Mauricio – Dona Carmem, não me faça perder a paciência com a senhora! Faça-me um favor, coma calada!
Mirtes – não fale assim com minha mãe, seu filho de uma...
S. Pires – vamos parando com isso. Vamos comer calados, todos!
(silêncio)
Paulo – Mirtes, parabéns! O rango ta de primeira!
Maurício – tirou as palavras da minha boca.
S. Pires – E Ilma, onde é que se meteu?
D. Julia – disse que ia com o namorado ao shopping.
S. Pires – hum!
Paulo – não gosto daquele cabôco! Num vô com os córneo dele!
D. Julia – eu queria saber onde você aprendeu a usar esse palavreado!
(música)
Jantar – classe alta.
Empregada (Lucia), patroa (Gizela), patrão (Alfredo), filha (Dórote) filha (Priscila), Namorado de Dórote (Guto).
(a mesa está posta. Dórote anda de um lado para outro. Entra Priscila)
Priscila – que saco!
Dórote – quê que foi Cila?
Priscila – esse Guto não chega mais não, é? Estou morrendo de fome!
Dórote – vê se não chateia. Quando for o seu namorado que atrasar, você vai ver como é
Priscila – sabia que isto demonstra tremenda falta de educação?
Dórote – Cila, vai comer alguma coisa na cozinha, vai...
Priscila – eu?? Comer na cozinha?? Você enlouqueceu, é? Vou chamar mamãe e papai e pedir para que mandem que sirvam o almoço. Não tenho nada que passar fome por causa do seu Guto!
(a empregada entra)
Lucia – com licença senhorita Dórote, chegou o seu convidado. Mando entrar?
Dórote – e o que está esperando? Se sabe que é meu convidado, por quê não mandou logo entrar? É cada uma!
Lucia – sim senhora!
Priscila – graças!!
(entra Guto, Priscila corre, abraça-o e beija)
Dórote – fez boa viagem, amor?
Guto – sim, excelente! Eu lhe trouxe um presentinho. (tira do bolso uma pulseira)
Dórote – que linda! Ai, que linda! Muito obrigada!
Priscila – ahnn... dórote querida... dórote...
Dórote – ah, essa é minha irmã, Cila.
Guto – (admirando-a) muito prazer... é... Cila?...
Priscila – Priscila. O prazer é meu!
Guto – dórote meu amor, eu havia entendido que sua irmã era criança.
Dórote – e é!
Priscila – Dórote! Que criança nada! Tenho dezessete anos.
Dórote – então Guto, dezessete anos não é uma criança?
Guto – bem...
Priscila – claro que não! Até parece! Com licença Guto, que vou chamar mamãe e papai para almoçarmos.
Dórote – Cila, peça a Lucia para vir até aqui, por favor.
(os dois se beijam. Entra Lucia)
Lucia – é... é... com licença... chamou senhorita Dórote?
Dórote – o que você quer beber, amor?
Guto – bem... vinho?
Dórote – Lucia, traga um pró-seco tinto, resfriado e tirinhas de salmão. Amor, você gosta de salmão ou prefere caviar?
Guto – salmão está ótimo, mas querida, pensando melhor, sei que estou atrasado, e devo desculpas, você sabe não é? As companhias aéreas não tem o menor respeito pelos passageiros, enfim, não gostaria de atrasar o almoço e percebi que Priscila... bem, por mim, vamos direto ao almoço, dispensando a entrada. O que acha?
(música)
classe baixa: Marido (Zé Maria), esposa (Maria José), filha (Santinha), filho (Jonas), filha (Martinha).
(todos sentados em banquinhos, com pratos na mão. Chega Martinha, grávida)
Martinha – (estende a mão para o pai) pai, sua benção!
Zé Maria – bençõe! Tudo bão fia?
Martinha – tudo pai. (abraça a mãe) sua benção mãe!
Maria Jose – Deus abençoa! E essa barriga, cumo vai?
Martinha – ta bem. Falta pouco num é? To aquentano mais não.
Maria José – (para Santinha) Santinha, vai ruma um prato de cumida pra sua irmã, anda.
Martinha – e ocê Pedo Paulo, já ranjo emprego?
Pedro Paulo – falá disso na hora da cumida dá inté pra perde a fome. E aqui, ni cidade, tem emprego pra gente sem estudo? Muito difícil! (enche um copo de cachaça e toma de uma vez)
Martinha – Pedo Paulo, será que num é pur causa da cachaça?
(os pais se olham apreensivos)
Pedro Paulo – vô nem responde, que ocê ta de bucho, mais já pidi pra pará de falá que vivo bebeno, que só bebo de vem em quando.
Zé – vamo pará cum essa cunversa e cumê queto. Ocê fala que num vai respondê e responde, né Pedo?... Adonde que ta Santinha cum o prato de Martinha?
Maria – (grita) Santinha... ô Santinha... trais logo o cumê de Martinha menina!
Santinha – to trazeno mãe, calma!
Martinha – tem pressa não mãe.
Pedro Paulo – acho que vô cabá de cumê lá dentro.
Martinha – Pedo Paulo, ocê ta ino lá pra bebê, pode bebê logo aqui, que num vou falá mais nada não. A vida é sua, ocê fais dela o que quiser.
Pedro Paulo – agora ocê falô uma verdade! A vida é minha mermo e ocê tem razão, num tenho que bebê iscondido. Pai, o sinhor quer um golinho?
Zé – dá ai, só um golinho!
Santinha – tamém quero um golinho, pode mãe?
Maria – se fô só um golinho, pode.
Pedro Paulo – toma um golinho tamém, mãe, que hoje é dumingo e a sinhora merece, pur ter feito um cume tão gostoso. Toma!
(música)
Giz-no teatro
Frases de atores de teatro
" A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por
isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a
cortina se feche e a peça termine sem aplausos.
" para bem conhecer a naturaza dos povos, é necessario ser
príncipe, e para bem conhecer a dos príncipes, é necessario
pertencer ao povo.
" O teatro é o primeiro soro que o homem inventou para se
proteger da doença da angústia.
" A mente humana é um grande teatro. Seu lugar não é na platéia, mas no palco
brilhando na sua inteligência, alegrando-se com suas vitórias, aprendendo com as
suas derrotas e treinando para ser a cada dia, autor da sua história, líder se si
mesmo!